Uma ode à pátria num tributo pela descoberta... do amor.

Mais de um século de história interliga as origens do emblemático edíficio da Panamar e os dias de hoje. Convidamos a fazer uma viagem na história e no tempo de uma estrutura que reflete a memória e a essência de Manuela Andrade, ao mesmo tempo que personifica a ousadia, tenacidade, espírito aventureiro e humanismo do povo português! 

Percorrendo diversas toponímias ao longo dos séculos por força da evolução social e mercantil da cidade, o troço inicial da agora Rua Mouzinho da Silveira - onde se situa a PANAMAR -, foi conhecida até à sua abertura por volta 1880 por Rua das Congostas, desembocando na Rua Nova dos Ingleses, inicialmente batizada com o nome de rua Formosa de D. João I, assim denominada em nome do grande impulsionador da cidade como metrópole religiosa e mercantil. Posteriormente foi ainda nomeada de Rua Nova dos Ingleses por força das transações de Vinho do Porto e do relacionamento privilegiado com Inglaterra e, finalmente, por Rua Infante D. Henrique em honra do grande impulsionador das Descobertas Portuguesas além-mar.

É nesta zona histórica que se situa o edifício da Panamar (PAN A MAR...) cujo próprio nome honra a historicidade do lugar, numa verdadeira ode à evolução da humanidade e, particularmente, numa homenagem a Portugal e ao seu papel no mundo.

É desde logo esta afeição à Pátria mãe que se sente à entrada das portas deste edifício datado de 1883 e mandado erigir por Francisco José de Araújo um importante comerciante da cidade por onde - durante mais de um século, - passaram negócios de exportação e importação dos produtos vindos de países longínquos que chegavam à cidade através do Rio Douro, logo descarregados na Alfandega Nova e depois transportados até à emblemática Estação de S. Bento, de onde partiam nos comboios a vapor para as diversas regiões do país.

As origens...

É pois, uma sensação de amor à portugalidade que desde logo nos invade os sentidos, muito pela imponência das espantosas paredes em granito com cinco metros de altura. Diz-se que a sua origem advirá da grande escarpa granítica situada a escassas dezenas metros da Panamar, onde se terá fixado há cerca de 2600 anos um castro celta de seu nome Kal - pedra ou rocha em celta - aqui estrategicamente localizado devido à sua posição elevada e defensiva. Hoje, esta ancestral civitas acolhe a entrada norte da Ponte Luiz I junto à antiga Muralha Fernandina, alberga o Paço Episcopal e a Sé Catedral, assim como o bairro mais antigo de toda a cidade com a mesma toponímia que, dois milénios mais tarde, se transformou na vibrante Cidade Invicta, hoje "Património Mundial da Unesco" que todos conhecemos. Crê-se então que é desta pedra sobranceira à zona da Ribeira - onde atracavam os barcos de pesca e se dinamizava comércio marítimo - que advirá o nome de Portugal, cuja herança toponímica já romanizada passou a Portus de Kal (ou seja o porto de rio situado junto à grande pedra), seguidamente a Portus Cal, chegando aos dias de hoje pela aglutinação das duas palavras em simplesmente Portugal.

Mas o olhar perde-se quase de imediato na beleza romântica das neo-góticas portas em madeira inspiradas na Igreja de S. Francisco, mandada construir por D. João I no séc, XIV, cuja coloração mesclada dos diversos tons que a cobriram durante 140 anos, foram trazidos à tona pelo talento de Manuela Andrade que ousou preservar a sua essência, as histórias contadas pigmento a pigmento, como se as quisesse deixar falar por si e revelar o seu génio.

Mesmo ao lado, a esventrada parede revela o entrecruzar do tabique à luz dos elegantes lustres que iluminam o espaço num tom lânguido e romântico.

Como que a ornamentar o balcão curvilíneo, uma outra peça - salva dos escombros do edifício em ruínas adquirido em 2015 por Paulo Cunha e Manuela Andrade -, levanta a curiosidade da sua origem pela robusta mas graciosa ondulação e logo, como que num eco ao pensamento é-nos revelado com serenidade, quase como num embalo, tratar-se do corrimão da escadaria que daria acesso aos andares cimeiros e que certamente teria sido destruído, não fosse Manuela Andrade vislumbrar-lhe uma outra função, uma outra vida... (saiba mais).

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